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Ricardo Jorge Claudino

Escritor, poeta de poemas e pensante

Escritor, poeta de poemas e pensante

Ricardo Jorge Claudino

02
Jul21

A pergunta

ricardojorgeclaudino

pergunta o velho ao jovem,
sabes o que esta casa gasta?
e prosseguiu sem esperar resposta:
mais do que as contas normais,
o desgaste das paredes e
algumas telhas que vão caindo.
a sombra que persegue a minha voz
é a maior despesa desta casa.

o jovem ficou em silêncio
longe da sua própria sombra;
quem cala consente
ou está ausente na fraqueza
de simplesmente concordar.

não eram palavras
nem teses fundamentadas
que o velho esperava ouvir.

hoje o jovem vai partir
para a terra prometida
e o velho sabe (porque sente)
que quem parte assim
volta sempre.

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26
Fev21

Novo website

ricardojorgeclaudino

Olá a todos os amigos do SAPO Blogs!

Acabo de lançar o meu novo website oficial em www.claudino.eu 

Neste meu novo espaço tenho a informação sobre mim, os livros, as notícias, os artigos do novo blog e os contactos.

Estão convidados a passar por lá e a sentirem-se em casa! 

Espero que gostem,

Ricardo Jorge Claudino

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11
Jan21

Umm Gazala

ricardojorgeclaudino
(Poema do livro "A Cor Do Tempo")
 
Medievalmente vi
uma fortaleza no cume
de uma encosta dourada
que desde a estrada
me fez quedar ali.
 
O sistema de coordenadas
além apontava:
Hoje Espanha,
antes o limite da Lusitânia,
8 milhas a sul do Guadiana.
 
Parei o tempo;
que bom ficar no presente
enquanto o cheiro das searas
me contam histórias raras
desta gente.
 
Há uma lenda que cita
Viriato, chefe dos Lusitanos;
deixou aqui a sua vida,
numa batalha só de ida,
contra os Romanos.
.
Do guerreiro lendário
não se conhece verdade,
mas vou lançar um boato:
A metáfora da sua morte
foi cair de amores por esta beldade.
 

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08
Jan21

Vertiginosa vontade

ricardojorgeclaudino

Raros pontos altos 

tem o Alentejo; mas

sempre que me 

posiciono no topo

de um deles, sinto

a vertiginosa vontade

de gritar: daqui eu vejo

toda a grandeza do mundo!

 

É preciso pensar que existe mais;

se não sairmos do nosso lugar

não podemos esperar nada

e não sabemos como

caminhar,

sonhar

ou até mesmo, voar!

01
Jan21

Esperança

ricardojorgeclaudino

Nascem flores no céu

sempre que a terra chove.

A água cai torrencial e

mata a sede dos anjos,

pinta as nuvens de verde

e evapora a fraca descrença.

 

A linha no horizonte

reflecte um sopro de luz;

todos sustentam a hipótese

sobre o regresso dos que sonham ter

as nuvens no céu e as flores na terra.

 

E cheios de esperança vão

os que ousaram criar

o novo mundo.

11
Dez20

Não há melhor lugar

ricardojorgeclaudino

Não há melhor lugar
senão aquele onde o tempo
caminha sem nunca chegar,
onde o céu abraça a luz
e onde a terra é da cor
dos olhos de quem a vê.

Não há nada melhor
do que ter simplesmente um lugar.

Pode estar vazio de gente,
abundante em memórias
e em ruas desocupadas;
mas quando se encontra
um lugar assim,
apenas o amor é
motivo de regressar
para sempre aqui.

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20
Nov20

Ó Sol que raias p’la manhã

ricardojorgeclaudino

Ó Sol que raias p’la manhã cedinho,

aceita estas nossas graças, 

por mais um dia com saúde 

e aquece o nosso caminho.

 

Alimenta a terra cultivada, 

mas tem avondo com a tua força,

não nos leves tanta água, 

e apoia a nossa empreitada. 

 

Quando o meio dia bater 

e alcançares o teu esplendor, 

lembra-te que a teu redor 

há o suor que nos tenta deter.

 

Mesmo com uma ou duas insolações,

mesmo com a sola das botas a ferver,

podemos confiar nas intenções

que movem o teu ser. 

 

Enquanto a noite cai 

fazes sempre do mesmo jeito:

deslumbras os casais apaixonados,

aconchegas quem esteve do teu lado,

e deixas a promessa de um amanhã

trazido por inteiro.

13
Nov20

O relógio do sol

ricardojorgeclaudino

No meio urbano

todas as horas contam,

porque todos os minutos

e todos os segundos

são contados.

 

A vida da criança da cidade

tem o mesmo fulgor

que a vida do adolescente,

do adulto e do velho,

em seu redor.

 

A criança da cidade

tem um relógio

e sabe a que horas

tem de fazer o que deve ser feito;

embora desconheça que,

o que deve ser feito,

nem sempre se enquadra

com o que realmente se deveria fazer.

 

O mal começa quando há hora marcada.

O mal termina quando a criança,

desprovida do seu próprio conhecimento,

passa a adolescência, 

a vida adulta

e a velhice

a lutar contra o tempo.

 

A criança do campo

nem tão pouco sabe as horas do recolher,

mas sabe que enquanto houver sol

há coisas para aprender.

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23
Out20

A sombra e o chaparro

ricardojorgeclaudino

A sombra do vento

cai sobre o chaparro;

fico com a sensação

de que o calor, exausto,

se deu por vencido.

Apenas aqui me sento

porque um alentejano

só se senta para pensar.

 

O vento sopra

e a sombra abraça-me.

 

Penso em negar-lhe o momento;

atroz este meu pensamento

que espera sempre mais

de quem dá menos.

 

Talvez tenha sido uma má escolha;

— mea-culpa,

há mais chaparros nesta terra e

as escolhas passam a ser histórias

(e as histórias, um dia, serão vida).

Mas aqui, e agora:

só me apetece pensar.

 

Suavemente, assim como um sopro

que acalenta os ramos deste chaparro,

o erro faz-se soar;

desde a minha própria sombra

escuto a voz que me quer guiar.

 

É o vento,

é a terra,

é a natureza,

é o amarelo,

é a luz e a penumbra

e é, também, este chaparro.

 

Graças à desertificação deste lugar

os meus olhos desenham uma planície sem obstáculos.

Não há prédios, casas, ruas ou estradas;

não há pessoas, carros, caos ou nada.

 

Na verdade,

sei que anda por aí um pastor;

apesar de não o vislumbrar,

o som cintilante dos chocalhos

dança ao ritmo do cajado que

solenemente bate no chão.

 

Como é aconchegante estar rodeado de nada!

Sem paredes, sem ouvidos,

— só estar aqui me basta.

 

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Fotografia de Daniel Janeiro

16
Out20

Para além do Tejo

ricardojorgeclaudino

(entre a batalha de Ourique e a chegada a Calecute)

 

A sul do Tejo

fica a terra que a norte

se via muito para além

do tempo.

 

A jovem nação,

refém entre vales e serras,

por fim avista a luz do horizonte:

— lonjura de um sonho infinito!

 

Imenso latifúndio sem relevos

recompensa para lá do rio;

marcham os portucalenses

por estradas de fastio.

 

Parecem lírios caminhantes,

faces firmes escondem a roxa fraqueza;

cavaleiros a galope re-conquistam o ar

que agora brando se faz respirar.

 

Por tamanha sorte,

pela expansão do território a sul,

surge a lição derradeira:

— que pelo mar se inicie a descoberta

de uma vida inteira!

 

Caravelas extravagantes em curiosidade,

herança viva do Alentejo;

fosse o rio o mar e Ourique Calecute

e haveria mais esperança para além

do nosso olhar.

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